Postado por Fabiano Ristow
Trailer é algo fascinante. Eu ia começar dizendo que se trata de um complexo trabalho de montagem. Mas não, um trailer não é uma compilação de trechos de um filme simplesmente – até porque é impressionante a quantidade de longas desinteressantes o suficiente para que suas partes, isoladamente, não suscitem nenhum impacto no espectador. Um trailer precisa de músicas, efeitos sonoros (e visuais), voiceovers, além de uma estrutura [1]. É um trabalho de criação.
Alguns trailers podem contrariar a natureza sofisticada das superproduções que representam e serem minimalistas, como o de A.I. – Inteligência Artificial [2], Dama na Água e Corpo Fechado [3], e ainda assim fervilharem nosso estômago de expectativa. Ou eles podem ser GRANDES mesmo, e aí entra E.S. Posthumus, uma banda da qual você provavelmente nunca ouviu falar [4]. Mas eu GARANTO que você a conhece.
Sua origem remonta a 2000, quando os irmãos Vonlichten, Helmut e Franz, decidiram ser musicalmente megalomaníacos. “E.S.” significa, em inglês, “Sons Experimentais”, e “Posthumus” representa as coisas passadas (ou do passado, etc), idéia ancorada nos títulos das 13 faixas do primeiro álbum, Unearthed. Eles se referem a cidades e lugares antigos: “Antissa”, da ilha Lesbos; “Tikal”, da civilização maia; “Punjab”, estado indiano; “Ulaid”, da Irlanda; e assim sucessivamente, estou com preguiça de listar.
Os sons são uma convergência de batidas surdas; tambores africanos; cordas orquestrais, voadoras e gritantes; instrumentos de sopro orientais; e coros catárticos e populosos (especialmente quando as músicas atingem uma espécie de “terceiro ato” ou clímax, característica comum à maioria delas). Estes últimos são vocalizados em latim pela Seattle Choral Company.
Aparentemente para engendrar seus espíritos grandiloqüentes, os Vonlichten chamaram uma turminha-do-barulho para tocar no CD, como Michael Landau (fanático por jazz [eletrônico] e que já trabalhou com Pink Floyd, Miles Davis, B.B. King e James Taylor), Pedro Eustache (responsável pelas flautas árabes na trilha de Munique, indicada ao Oscar em 2006) e Davy Spillane (da banda Moving Hearts, aquela com integrantes do grupo folk irlandês Planxty).
“Mas o que diabos o E.S. Posthumus tem a ver com os malditos trailers?!”, pergunta, de saco cheio, o leitor do Discreto Blog da Burguesia. Acontece que, desde a virada do milênio, os diretores, distribuidoras e empresas vêm utilizando as composições da dupla para promover as mega ultra fucking superproduções hollywoodianas, geralmente nos momentos finais dos trailers, quando há a clássica e frenética montagem de cenas aleatórias suficientemente curtas para que não sejam absorvidas pelo seu cérebro num plano totalmente racional, mas que funcionam inconscientemente quando estimulam a formação mental de uma atmosfera sensorial caoticamente cool.
Em Homem-Aranha, temos “Pompeii” (1:41); em Planeta dos Macacos, “Tikal” (0:19) e “Menouthis” (1:33); em Antwone Fisher e Infidelidade, “Nara” (1:06 e 1:00, respectivamente); em Minority Report e Tomb Raider, “Tikal”; em Matrix Reloaded, “Ebla”. E por aí vai.
Há alguns anos, enquanto todas as crianças saudáveis saíam com seus amigos para matinês como Rock in Rio e Dado Bier [5], eu tinha esse costume de ficar em casa pesquisando assiduamente por músicas de trailers [6], e foi assim que conheci E.S. Posthumus. Como nosso companheiro de blog Luis era tão problemático quanto eu, nossa diversão se resumia a inventar letras para aqueles tão-explorados corais latinos. Concordamos, assim, que os versos de “Pompeii” eram “Dá chupeta pra brincar / põe tempero pra ferver” (0:18) e de “Ebla” eram “Ah, temusa / Ih, genérico / Quibe frito / Minha patife” (0:00 em diante), para citar alguns exemplos.
Sim, nós compomos todas as letras de todas as canções de Unearthed. Não, nós não tínhamos o que fazer. E foi só por este único e exclusivo motivo que eu ouvi o álbum repetida e continuamente.
Porque sim, eu acho E.S. Posthumus um saco.
—
[1] Claro, com “estrutura” eu me refiro a trailers convencionais, não a pérolas como o de Os Pássaros ou o de O Iluminado, tampouco àqueles antigos, quando o Homem da Voz Grossa ainda não nascera, e letreiros exagerados eram esparramados na tela, tipo isso.
[2] Provavelmente, meu trailer favorito de todos os tempos. Me atendo à descrição no You Tube, é “lírico e enigmático, mostrando nada exceto sofisticados designs gráficos, sem revelar nenhum quadro do filme.”
[3] Shyamalan definitivamente sabe fazer trailers. Seus filmes bem que podiam atender às expectativas geradas por eles. Bem que podiam. Né.
[4] Eu não estou subestimando o leitor do Discreto Blog da Burguesia. Esta afirmação é baseada empiricamente. Se você conhece E.S. Posthumus, parabéns. Ou não.
[5] O Dado Bier fechou suas portas quando, durante uma festa, rapazes maduros decidiram brigar e atirar uns nos outros. Crianças + bebida alcoólica = merda. Estão vendo por que o “Sim” deveria ter ganho o referendo?
[6] Não me pergunte por quê.
Ristow, a música que toca no começo do trailer de Planeta dos Macacos é “Pompeii”.
E.S. Posthumus é ótimo pra trailers (se bem que já tá ficando manjado), mas eu não consigo imaginar alguém ouvindo a banda pra se divertir sem nenhum acompanhamento visual – a não ser que a vida dessa pessoa seja extremamente dramática.
E sim, os trailers de A.I., Corpo Fechado e O Iluminado são alguns dos mais incríveis e instigantes de todos os tempos. O primeiro principalmente por causa da música, que automaticamente te faz lacrimejar. Aliás: Ristow, já que você expert em trailers, que merda de música é aquela tocando no trailer de A.I., e por que o Spielberg não colocou ela no filme?
E mais: alguém faz alguma idéia da música que começa a tocar em 1:41 nesse trailer de Sangue Negro:
?
Luis, a música que toca no teaser de AI é do Zbigniew Preisner. Não sei o nome, se vira.
Tô baixando pra ver se gosto.
Nossa, realmente, reconheço não só de trailers, mas como de muitos filmes também. Ouvi Ebla, Pompeii e Nara (essa é a de Cold Case, né?)
Bom, parece que eu estou meio atrasada aqui…
Mas quero dizer que estou viciada em E.S. Phostumus e, graças a vocês, consegui baixar diversas músicas.
Eu sou o tipo careta, mas viajo ao som de Pink Fl0yd e, agora, ao som do E.S. Phostumus too…rs
Alguma novidade?
Valeu meninos! ;)
Qual a musica classica q toca no tralier do filme o Iluminado
Poxa cara, eu escuto ESP há algum tempo, e sem dúvida, é uma das minhas bandas favoritas… Ah, e minha vida não é nada dramática.. Gosto é gosto, e não se discute…vlw
acho muito legal e.s. posthumus, minha namorada adora ouvir na hora que nós… rsrsrsr abraço ae galera.
Eu adoro, principalmente Nara do seriado Cold Case, é de arrepiar. Amo!!!
Boa Noite… Fiquei fã deles há pouco tempo, mas já amava a Música Nara, que toca no Cold Case… Acabei chegando a este site por conta de minha pesquisa sobre o título “Nara”, pensando se referir à cidade japonesa… Ao ler o trecho: “Eles se referem a cidades e lugares antigos”, pensei não estar errada sobre minha suspeita. Alguém pode confirmar se o título “Nara” refere-se mesmo à cidade japonesa?
Hoje em dia tenho tudo deles no Deezer… (Y)
Grata… (Y)
Encontrei isso aqui: “De acordo com o tema “Posthumus” cada uma das treze trilhas do álbum é nomeada por uma cidade ou lugar antigo. São: Antissa, Tikal, Harappa, Ulaid, Ebla, Nara, Cuzco, Nineveh, magna de Lepcis, Menouthis, Estremoz, Pompeii e Isfahan.”
Indo ao Google e pesquisando sobre cidade com o nome “Nara”, só vejo matérias sobre o Japão até agora… Deve ser mesmo… :)