Postado por Luis Calil
Adoração (Atom Egoyan) – 6
Qual é o ponto de começar o seu filme com a narrativa fragmentada e não-cronológica se você vai terminá-lo com monólogos explicativos longos e chatos recitados pela sua esposa? Fala sério. E como o D’Angelo disse, ocasionalmente surgem idéias no filme sobre terrorismo que, se fossem apropriadamente dramatizadas, teriam gerado um filme muito mais fascinante que o atual. O modus operandi do Egoyan – a fragmentação confusa citada acima – ainda é (inicialmente) excitante o suficiente pra valer a pena, sem falar nas ocasionais bizarrices, como a discussão com o taxista do sanduíche e a Sra. Egoyan aparecendo na rua usando máscaras do Oriente Médio. Mas ainda to esperando um Exótica 2.
Duska (Jos Stelling) – 3
Típica comédia preciosa deadpan de cinema de arte europeu, só que ainda mais retardada e previsível do que de costume, como Whisky para retardados. Eu não entendi o que o final “simbólico” teve a ver com o resto do filme, e nem quero. A única coisa que me manteve na cadeira foi o fato de que a atuação do cara que fez o Duska tinha momentos cômicos inspirados. Eu declaro que “Duska” a partir de agora é oficialmente gíria para “Mancada”.
Depois da Escola (Antonio Campos) – 9
Eu tava na Livraria Cultural ontem checando a sessão de CDs e fiquei alegremente surpreso quando achei o excelente disco novo do Burial – um artista obscuro o suficiente pra causar tal surpresa – numa das prateleiras. Minha reação foi pegar meu celular e tirar uma foto da minha mão segurando o disco, pra mostrar pros meus amigos fãs de Burial, nenhum dos quais possui o CD em si. Esse meu gesto é parte do tema de Afterschool, que lida com como a nossa capacidade e vontade de filmar e gravar e exibir nossas vidas (pelo o YouTube, por exemplo) afeta o jeito que nós comportamos. O próprio Campos chamou o filme de “ficção-científica no presente”, o que soa correto. O protagonista, Rob, é um Holden Caulfield da vida, usando essa recente tecnologia para tentar encontrar momentos não afetados, momentos de verdade pura. Campos, um pirralho (25 anos) filho de brasileiros, apresenta a jornada de Rob de uma forma extremamente perturbadora, capaz de causar lágrimas de orgulho em Michael Haneke (que não parece ser o tipo que chora). Um soco no estômago. Quero rever.